Lembranças

Bradley separou álbuns e caixas de recordações de 2005. Aquele foi um ano tão especial. Ele lembrava do sentimento de voltar para casa exausto do trabalho e ver sua mulher com sua filha no colo. Não tinha imagem mais bonita e aquilo o impulsionava a trabalhar e tentar mais, todos os dias, dando o melhor de si para a sua família. Só de fazer aquela separação de itens guardados para mostrar para Emma, os olhos do professor encheram de lágrimas.

Há quem diga que romantizamos muito o passado e que nos lembramos dele melhor do que realmente foi. Ele não sabia dizer se estava fazendo exatamente aquilo, mas a verdade é que não conseguia se lembrar de um momento que fora mais feliz.

Bradley passou por uma foto sua abraçando Jessica, que segurava uma Emma bem pequenininha. Ele ficou fitando por bons minutos o quanto aquela família parecia perfeita e feliz. Mal sabiam eles o que estava por vir. A tempestade que assolou suas vidas não muito meses depois daquela foto.

O professor teve uma vontade súbita de chorar e acabou fazendo exatamente isso. Uma cachoeira que começou do nada e não parecia mais ter fim. Parecia que tinha sido apenas há alguns dias atrás que era casado e que todas as tragédias aconteceram.

Por quê?

Deus, tira a dor da minha mulher. 

Por que com a gente, Senhor?

Conforte os nossos corações... está muito difícil ainda ter fé. 

Minha mulher não é feliz. O que eu faço? 

Eu espero pelo amanhã, mas o amanhã sempre falha comigo. 

Se o amor vence tudo, por que o amor que sinto pela minha mulher nunca é o suficiente? 

Deus, tire tudo de mim, me deixe sem nada, mas dê um filho pra Jessica. Acho que só assim pra ela ser feliz. A felicidade dela é a minha. Eu ficarei bem e em paz. 

Bradley refletiu um de seus últimos desejos antes do fim do casamento. Ele falava a verdade quando pediu aquilo. A felicidade dela era a dele. Não é sobre isso que o casamento é firmado?