segunda-feira, 11 de dezembro de 2017

Bagulhos sinistros


Carlisle entrou na cabine do banheiro da escola, fechou a tampa do vaso, sentou e fechou os olhos envergonhado pensando no furo que havia acabado de dar. Ele passou as mãos no rosto, depois no cabelo, em seguida, tirou um cigarro do bolso, acendeu e deu uma pequena tragada, respirando fundo e aproveitando aquilo com o máximo de prazer possível. Ao olhar para baixo, viu algo dobrado no chão. O professor apagou o cigarro, o jogou no lixo e apanhou o papel. Ao desdobrá-lo, se deparou com uma foto de Cheryl e um líquido branco dentro, o que fez com que ele imediatamente jogasse aquilo de volta no chão. Sem entender nada, ele ficou olhando para o objeto se perguntando quem havia feito aquilo, até que foi desperto de seus pensamentos, quando ouviu alguém falando:
- Nossa, menina, cuidado pra ninguém descobrir que você ta fumando na escola.
Era Natalie.
"Mas que droga é essa? Eu entrei no banheiro feminino?", pensou Carlisle olhando para os lados apenas com os olhos.
- Toma! - Natalie passou por debaixo da frecha um frasco de perfume. - É melhor você jogar isso, porque a inspetora pode entrar aqui, sentir o cheiro e te levar pra direção.
"Que estúpido! O que eu to fazendo dentro de um lugar fechado, com crianças, fumando, que ainda por cima é o banheiro feminino e o lugar onde eu trabalho?". Carlisle pegou o perfume do chão e borrifou duas vezes no ar.
- Ei - Disse Natalie agora encostada na porta da cabine do professor de psicologia - Se você precisar fumar em um lugar mais discreto tem uma salinha bem depois da cantina que é perfeita pra isso.
"Natalie?", Carlisle se assustou. Ele empurrou o vidro para o outro lado, esperando a menina pegá-lo e sair. Natalie, entretanto, o apanhou do chão, mas em vez de sair, foi para a frente do espelho ajeitar o cabelo. A verdade é que ela estava curiosa para saber quem era a muda que estava fumando no banheiro, então decidiu passar o tempo lá para descobrir, já que suas aulas do dia já tinham terminado.


Jane e Lily entraram no banheiro. As duas conversavam empolgadamente:
- Menina, mas foi muita coincidência aquilo!
- Eu sei! Não to acreditando até agora. - Respondeu Jane animada, entrando na cabine do lado da de Carlisle e falando alto para que a amiga que começou a passar batom a ouvisse - Ele é melhor do que eu tinha pensado.
"(...) não vão me ver, mas vai ser muito estranho se isso acontecer... Não tem jeito, vou ter que esperar elas saírem.", pensou o professor.
- E rolou alguma coisa? - Perguntou Lily.
- Ainda não! Mas a gente trocou whatsapp, então já é um começo.
- Não sei como você não beijou ele! Eu mesma fiquei com vontade de beijar ele.
- Calma, Lily! Tudo tem seu tempo. - Jane deu descarga e saiu da cabine. - E você? Decidiu se... - Jane levantou duas vezes seguidas as sobrancelhas.
- Não sei, to muito insegura ainda!
- Duvido que o sr. misterioso diga não.
- Eu aposto que ele vai dizer não! Aiii - Lily tapou o rosto com a mão - Eu comprei um pacote de tabletinhos da Lindt pra essa pessoa de Natal, mas to com medo de entregar.
- Ué, comprou pra não entregar? Coragem, mulher! Qualquer um gostaria do presente. - Incentivou Jane - Dá como quem não quer nada, só pra pessoa te achar fofa. Se bem que se fosse eu, já desconfiaria do presentinho...
- Acho que a pessoa não vai desconfiar. Vou fazer de um jeito pra que não desconfie.
Naya entrou no banheiro e começou a se ajeitar em frente ao espelho.
- Mas olha, se você fizer de maneira muito oculta também não vai ser bom, porque o carinha precisa pelo menos desconfiar que você gosta dele.
- Quando for o tempo certo eu vou fazer isso.
As duas saíram e, em seguida, se escutou dentro do banheiro somente a voz da Jane dizendo:
- Fala aê, vadia!


Olivia, então, entrou no banheiro com um sorriso falso no rosto que rapidamente foi desfeito. Ela começou a se olhar no espelho, até que Naya perguntou:
- Seu pai também foi chamado pra cá?
- Foi! - Ela revirou os olhos. - O pior é que ele já deu aquela aula idiota aqui, então ele ta bem bravo, porque ta se sentindo envergonhado. Afff! - Olivia revirou os olhos novamente.
- Eu ouvi dizer que seu pai é um pedaço de mal caminho... - Naya disse com um sorriso malicioso na cara.
- Nem começa! Sério mesmo. Já basta aquelas pu**s querendo chamar atenção dele durante a p***a da aula que ele deu inteira. A Margot, que é do meu grupo das ousadas, ficou conversando com ele depois da aula. Não fo*e, né?
- Nossa, que vadia!
- E ele é casado, cara! Não quero nenhuma dessas vadias estragando o casamento dele não.
- Relaxa, essas garotas se acham, mas não têm culhão pra ficarem com um cara como o seu pai. 
- Maldito seja o Carlisle por ta fazendo essa palhaçada.
- Você sabe com quem ele já conversou até agora?
- Eu acho que a última que ele falou foi a mãe da...
E as duas saíram do banheiro.
Preocupado de que mais alguém entrasse no banheiro, Carlisle decidiu pedir logo a ajuda de Natalie que parecia que nunca sairia dali:
- Ei, Natalie! - Ele abriu um pouco a porta da cabine. - Aqui é o Carlisle.
- Carlisle? - Natalie falou um pouco alto demais, mas ao notar isso, abaixou o tom de voz, se aproximou da cabine e perguntou - O que você ta fazendo aqui? Esse é o banheiro feminino! Pera, já sei! Você ta tentando descobrir mais informações para suas análises, só que dessa vez escondido no único lugar que não tem câmeras.
- Não, não é isso. - O professor se apressou rapidamente para se explicar - Eu tava distraído com um assunto e acabei entrando aqui sem querer, pensando que era o banheiro masculino. Agora eu preciso da sua ajuda pra sair daqui sem ser visto pelos outros alunos. Eu preciso que você veja pr... - Carlisle se interrompeu ao ouvir passos vindo do corredor que dá para o banheiro. Os dois arregalaram os olhos e Carlisle rapidamente puxou Natalie para dentro da cabine. Adele entrou no banheiro com a escova de dentes na mão e começou a escová-los. Os dois começaram a se olhar, escutando o barulho dos dentes de Adele sendo escovados. O professor, então, puxou Natalie para mais perto e falou no ouvido dela bem baixinho:
- Preciso que você observe se tem muita gente lá fora na quadra ou se tem gente entrando no banheiro pra que eu possa sair daqui sem ser visto.
A menina ficou na ponta dos pés para alcançar o ouvido do psicólogo; então fez uma concha com uma das mãos e sussurrou:
- Quando eu entrei aqui a inspetora tava encostada na parede que dá pro banheiro.
- Droga! - Disse Carlisle, enquanto ele havia pensado "Mier**!". 
- Mas calma - Falou Natalie sem emitir nenhum som e fazendo o gesto de calma com as mãos - eu vou te ajudar.
- Quem ta aí? - Perguntou Adele alto.
Os dois arregalaram os olhos. Carlisle, então, deu um empurrãozinho em Natalie para que ela falasse:
- Eu! - Natalie disse.
- Eu quem?
- Natalie! - Respondeu a garota fazendo cara de quem é idiota por não ter dito o nome.
- Ah ta, é você, amiga! - Adele respirou aliviada - Eu perguntei, porque eu vou fazer meu mantra aqui na frente do espelho e fiquei com medo de que a pessoa que estivesse aqui escutasse e depois fosse me zoar pros outros.
- Nada! Sem problemas!
- Mantra? - Perguntou Carlisle sem som.
- Eu sou linda, eu sou poderosa, eu sou maravilhosa... - Começou a gordinha.
- É mantra do grupo das feias!
Carlisle revirou os olhos e se sentou na tampa do vaso:
- Isso vai demorar?
- Até ela se sentir confiante pra sair do banheiro.
- Ai que susto! - Adele colocou a mão no coração. - Que bom que é você, Nicola. Achei que fosse outra pessoa.
- Por quê? O que houve? - Indagou Nicola.
- To fazendo nosso mantra do grupo e não queria que alguém que não é confiável me ouvisse.
- Aaah ta! - Riu Nicola. 
- Eu sou gostosa, eu posso tudo, porque eu sou poderosa...
- Ei - Disse Nicola baixinho, se aproximando de Adele e apontando para a cabine que estava Carlisle e Natalie.
- Ah, relaxa! É só a Natalie. Ela deve ta aí fazendo cocô.
Natalie fechou os olhos envergonhada.
- Ah ta! - Riu Nicola de maneira debochada.
- Ué, qual é o problema? Todo mundo faz cocô.
- Eu não quero falar sobre isso. - Falou Nicola com nojo.
- Eu não to fazendo... isso que vocês tão falando. - Falou a garota do 2º ano.
- Ai que bom então, porque eu não acho que a escola seja um lugar pra fazer essas coisas! Bem, eu to indo. Tchauzinho pra vocês.
Nicola saiu. Adele, então, falou:
- Desculpa, amiga, não era pra eu ter falado isso pra enjoada da Nicola.
- Mas eu não to fazendo o que você disse que eu to fazendo, Ade.
- Como não? Eu vi quando você entrou. Tu já ta no banheiro há maior tempão, mas relaxa, amiga, que eu não julgo.
- Valeu! - Respondeu Natalie sem graça.
- Desculpa! - Carlisle disse sem som, levantando do vaso.
- Tudo bem! - Falou Natalie sacudindo a cabeça - Pelo menos eu não tava fumando no banheiro. 
- É, no seu caso você usa uma salinha depois da cantina. Acho que eu vou ter que chamar seus pais para conversarem comigo também.
Natalie sorriu envergonhada sem mostrar os dentes e depois disse provocando: 
- Pelo menos eu não sou uma profissional da saúde.
- Ainda... - Carlisle sorriu pra ela. Natalie começou a abrir um sorriso de volta, dessa vez mostrando os dentes, quando Adele a interrompeu:
- Tchau, amiga! Eu já vou! Até amanhã!
- Tchau! Até! - Se despediu Natalie.
Adele saiu e Carlisle disse:
- Ta vazio! Agora vê se tem muita gente lá fora ou se tem alguém entrando pra que eu possa sair. Bata o pé se eu puder sair. Se alguém tiver entrando ou se tiver muita gente, você tosse.
- Ok!
Ela saiu da cabine e viu que não tinha quase ninguém na quadra e que o corredor estava vazio. Natalie, então, bateu o pé e rapidamente Carlisle saiu de lá.Passada a emoção, já do lado de fora ele disse:
- Muito obrigado... por isso e pelo perfume. 
- Sempre que precisar!
Carlisle então começou a andar para sair de lá, quando lembrou de algo, se deteve e virou para onde Natalie estava:
- Olha, eu juro que a situação toda foi sem querer e que...
- Eu acredito! - Natalie interrompeu o professor - Pode ir tranquilo, Carlisle. Eu não vou te julgar.
- Ok! - Carlisle abaixou a cabeça rapidamente olhando para o chão e depois a levantou para voltar a olhar para Natalie - Então obrigado de novo.
Ele saiu de novo e começou a pensar o quão louco havia sido o dia dele desde a bendita coincidência, até a situação do banheiro e como a primeira situação incomoda afetou os sentidos dele. 
Depois de dar algumas aulas e falar com alguns pais de alunos, Carlisle foi até a sala de Ellie para combinar a aula que os dois dariam juntos no turno da manhã. Ele bateu na porta e meteu a cara já dentro da sala, perguntando:
- Posso entrar?
- Pode! - Ellie sorriu.
- Eu vim pra gente poder falar sobre as aulas que daremos juntos pro pessoal da manhã. É que eu tava querendo que você tivesse mais oportunida... - Carlisle se deteve, vendo uma caixa de tabletinhos da Lindt que estava em cima da mesa da conselheira. - O que é isso? - Perguntou ele, apontando para o objeto.
- Ah, isso? - Perguntou a conselheira pegando a caixa de cima da mesa - Isso foi um presentinho de final do ano que Lily da 4ª série me deu. Não é uma fofa?

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