quarta-feira, 28 de outubro de 2020

Little Ghosts Everywhere - História 2

Megan e Natalie estavam deitadas na cama, cada uma virada do lado oposto da outra, conversando sobre Jorge (sim, o primo da Patrícia. Essa é do arco da velha). Acontece que a jovem nerd tinha um crush platônico no garoto, mas não conseguia fazer nada, porque virou ponto pacífico na escola que o grande casal era Jorge e Courtney, ainda que os dois não namorassem.

“Fala sério, Natalie. Mesmo que não existisse a Courtney, duvido muito que você faria alguma coisa. Você é muito medrosa.”

“Eu não sou medrosa, só sou tímida.”

“Dá no mesmo. Gente tímida, normalmente é medrosa.”

“Nem sempre”, protestou Natalie.

“Você se considera medrosa?”, perguntou Megan, levantando um pouco da cama e olhando seriamente para a amiga.

“Ah, mas eu não sou todo mundo.”

“Então pronto!”, ela jogou a parte do corpo que tinha erguido para trás, a fim de deitar novamente na cama.

“Eu certamente seria rejeitada por ele.”

“Pode ser...”

Na verdade Megan duvidava muito que Jorge rejeitasse Natalie, com Courtney ou sem Courtney. Natalie era linda. Não tinha como. Ela só dizia aquilo, pois queria que a amiga continuasse com medo e não fizesse nada.

Já fazia um tempo que ela estava nutrindo sentimentos românticos pela melhor amiga. No começo, Megan não entendeu muito bem o que estava sentindo, já que nunca teve dúvida que gostava de meninos. Num primeiro momento, achou que fosse a boa e velha curiosidade, mas, com o decorrer do tempo, o sentimento só foi aumentando. Ela gostava muito de passar as horas do dia com Natalie, tocá-la, sentir seu cheiro. As duas, literalmente, eram inseparáveis, o que para Megan era ótimo. Uma parte dela ainda acreditava que aquilo não era nada demais, só curiosidade. Pensar na garota o tempo todo, fixar o olhar sempre que ela passava a língua entre os lábios era algo normal para meninas da sua idade. Todo mundo devia passar por aquilo. O problema é que aquele desejo a estava incomodando cada vez mais. Megan acreditava que se beijasse Natalie pelo menos uma vez, ela perceberia que garotos eram melhores. Mas não podia ser outra garota, só Natalie.

Ela tentou traçar mentalmente um plano várias vezes, mas tinha medo da amiga entender errado e botar a amizade a perder. De jeito nenhum ela queria arriscar o que tinha e ainda ficar sendo vista como lésbica. Não, isso não. Até porque, ela não era lésbica. Ou era?

Passado alguns meses, Megan já não estava mais aguentando aquela tortura. O que aconteceria se ela contasse para a amiga a dúvida que estava sentindo? Natalie era boa. Nunca iria parar de falar com ela por algo tão bobo ou iria? A verdade é que a rainha sabia que não, mas tinha muito medo de ser rejeitada. Ela já tinha até feito as pazes com a ideia de que talvez fosse, não lésbica como havia pensando, porque ela também gostava de garotos, mas bi.

Um belo dia, Megan tomou coragem e decidiu contar para a Natalie toda a situação. Ou quase toda. As duas estavam sentadas na mureta da casa da ousada, tomando sorvete, quando a morena começou:

"Natalie, eu tenho que te contar uma coisa.", ela disse de cabeça baixa.

"O quê, Meg?", Natalie perguntou, dando uma lambida no seu sorvete. Parece até que ela já sabia.

"Eu acho que eu gosto...", Megan engoliu em seco. "Eu acho que eu gosto de meninas. Quer dizer, que eu também gosto de meninas. Meninos e meninas."

Aquilo pegou Natalie de surpresa. Ela realmente não estava esperando uma revelação daquelas, ainda mais vinda do nada.

"Como você descobriu isso? Você tem certeza?"

"Eu acho que...", começou a ousada.

Será que valia a pena colocar toda a sua amizade em risco sendo tão sincera?

"Eu acho que com os filmes. Segundas Intenções realmente me pegou de jeito. E sim, eu tenho certeza. Ou quase. Sei lá.", Megan disse confusa. "Quão estranha você acha que eu sou?", ela perguntou chateada.

"Eu não te acho estranha. Nem um pouco.", Natalie tocou no braço da amiga. "Mas você acha isso só por causa de um filme? Porque se for só por isso, talvez você nem seja."

"Não, não é só isso." Megan queria desaparecer. "Eu também estou gostando de uma menina."

"Quem?", perguntou Natalie curiosa. Elas eram melhores amigas, então não tinha motivo para rodeios.

"Você.", Megan confessou, fechando os olhos para não ver a reação da nerd.

Natalie ficou muito, mas muito chocada. Em nenhum momento passou pela sua cabeça que Meg poderia gostar dela. Nem mesmo após a revelação isso era uma possibilidade. Ela respirou fundo e por sua amiga fez a melhor cara que pôde, imaginando que aquilo estava sendo muito difícil para Megan.

"Meg, para de tapar a cara, por favor, e olha pra mim, sério!" A ousada fez o pedido por Natalie. "Pode ser que você tenha se confundido, porque somos muito amigas. Mas pode ser que seja verdade. De qualquer forma, estarei aqui por você, saiba disso. Nada mudou."

Megan tapou a cara novamente. Ela estava completamente envergonhada e arrependida de ter sido tão sincera. Era melhor ter deixado tudo quieto e lidado com aquilo internamente.

Ao ver a reação da menina, Natalie, sem pensar, tirou a mão de Megan do rosto e tascou-lhe um beijo de língua. Foi a primeira vez que as duas beijaram alguém do mesmo sexo. A língua de Natalie tinha gosto de morango, enquanto a de Megan tinha gosto de menta. O coração da ousada batia muito forte. Ela ficou surpreendida com o fato da língua da aluna preferida de Carlisle (alô, professor! Faz análise aí!) ser tão macia e gentil. Foi naquele momento que ela percebeu que realmente era bi. Não havia mais dúvidas. Aquele beijo tinha sido o melhor da sua vida até então. 

Natalie tentou não pensar no momento, nem na circunstância. Ela simplesmente se jogou e deixou rolar. Ela percebeu que a língua da ousada, a princípio, estava tremida, tanto quanto o coração da garota, que batia aceleradamente. Entretanto, com o tempo, as coisas foram se acertando e encontrando o próprio ritmo. Era igual a beijar um homem, ao mesmo tempo que não era. Megan beijava muito bem, era verdade, mas faltava algo. Com aquele beijo as duas tiraram certezas completamente opostas: uma do sentimento, a outra da falta de sentimento.

Quando pararam de se beijar, Natalie olhou discretamente ao redor para ver se alguém tinha visto. Em contrapartida Megan estava completamente extasiada com o que havia acontecido, já com saudades de sentir a boca de Natalie na sua. 

"O que você achou?", Natalie perguntou calmamente para Megan. 

"É, definitivamente eu sou bi.", disse sinceramente a irmã de Lauren. "E você?"

"Foi bom sim", concordou a garota, não sabendo o que dizer em seguida. Ela percebeu que o beijo havia sido uma atitude impensada, pois agora a colocava em uma sinuca de bico, uma vez que ela não tinha sentido o mesmo que a amiga. "Mas eu não sei... Acho que ainda te vejo só como amiga."

"Tudo bem. Eu não esperava que você fosse se descobrir bi ou coisa assim." Megan sabia que era quase impossível que o sentimento se tornasse recíproco, mesmo depois do beijo. Ainda assim, doeu um pouco ouvir aquelas palavras. "Ainda assim, obrigada, de verdade. Você é uma boa amiga."

"Não foi nada!............................... Por favor, Meg, não se afasta de mim, ok?"

"Eu não vou."

"Obrigada", Natalie deu um sorriso tímido para Megan, que retribuiu.

E se afastaram.

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