“Would to God that I had never beheld them, or that, having done so, I had died!” Nunca o conto de Edgar Allan Poe, Berenice, tinha feito tanto sentido para Andrew quanto nos últimos meses. Enquanto Elizabeth falava e ria, ele olhava absorto para aqueles dentes perfeitamente imperfeitos.
Algumas
mulheres eram lindas por serem exatamente padrões, já outras se destacavam por
fugirem do padrão. Elizabeth era uma mistura dos dois casos. Já fazia um
tempinho que Andrew tentava flertar com ela, mas a portuguesa era uma incógnita.
Ou ela não levava a sério as suas investidas ou não percebia as suas investidas
ou aceitava as suas investidas ou era apenas simpática ou... Eram muitas
possibilidades!
– Que
foi? Tem algo no meu dente? – Perguntou Elizabeth, cobrindo a boca com a mão
envergonhada. Andrew tinha sido indiscreto demais.
– Não,
eu só gosto dos seus dentes. – Ele respondeu sinceramente. A diretora o olhou
desconfiado. Não dava para saber se era porque não acreditava no que o inglês
havia dito ou se era por razão do flerte descarado. Ou talvez porque a resposta
tivesse sido estranha. Novamente, muitas possibilidades!
– Eu
odeio os meus dentes, mas eu odeio ainda mais a ideia de ir para um dentista,
então prefiro ficar sem consertar e deixar eles como estão.
–
Nunca faça isso! Seria um pecado se você fizesse.
Elizabeth
semicerrou os olhos, olhando o professor, mais uma vez, de maneira desconfiada.
– Não
consigo dizer se você está debochando ou se...
–
Jamais! – Andrew a interrompeu. – Eu realmente gosto dos seus dentes. Te deixam
mais jovial e realmente são muito bonitos. São diferentes. – A diretora parecia...
desconfortável ou nervosa. Talvez fosse por causa do assunto ou porque... Vocês
entenderam. Muitas possibilidades! – O que eu quero dizer é que você tem um
sorriso muito bonito. Não só o sorriso, outras coisas também. Você é muito
bonita.
O
silêncio de Elizabeth, seus olhos arregalados e os lábios entreabertos
significaram para o inglês apenas uma coisa.
Sim, o
amigo teve uma breve quase-história com Elizabeth, mas aquilo já tinha passado.
Além do mais, Bradley era fissurado na ex-mulher. Ele certamente não ficaria
chateado. Ele nem tinha o direito de ficar chateado.
Andrew
se aproximou dos lábios da portuguesa, os olhos cravados em sua boca, a mão
quase em seu rosto e em sua cintura, as respirações próximas, os narizes já se
encostando, um leve e macio toque, sua língua já ansiosa para saltar de sua
boca para a dela, quando os dois foram interrompidos pelas batidas na porta. Tudo
muito rápido. Os dois se afastaram rapidamente, ela olhando para a porta
assustada, ele olhando para ela. Ninguém entrou. Eles estavam no colégio, ela
era a diretora, a pessoa estava esperando um aval. Rapidamente se dando conta
disso, Elizabeth disse:
– Entra!
A voz
um pouco mais rouca do que o de costume, constatou Andrew. Ele sorriu.
A mãe
de Daniela entrou. O inglês poderia matá-la, mas manteve um sorriso amigável no
rosto.
– Elizabeth,
licença, é que estamos precisando comprar alguns ingredientes no supermercado
se formos fazer o fricassé amanhã.
– Ah,
sim, claro! Quais são os ingredientes que estão faltando? Vocês fizeram uma
lista com as quantidades?
Recomposta
e dissimulada.
– Sim,
já fizemos. Só estamos na dúvida de alguns detalhes, se é melhor creme de leite
em caixa ou creme de leite fresco, frango fresco ou de bandeja...
“F**k
you!”
– Eu vou
deixar vocês duas resolverem essas coisas. – Disse Andrew. Elizabeth assentiu
quase que imperceptivelmente. – Bárbara – O inglês moveu a cabeça olhando para
a mãe de Daniela. – Lizzie. – Ele então olhou diretamente para a diretora, com
um sorrisinho safado. – Nos vemos depois. – E saiu.
Elizabeth
olhou a cena atônita. Ela nunca poderia imaginar que o começo dos eventos
levaria àquilo.
– Quem
é Bárbara? – Perguntou a mãe de Daniela sem entender. – Sou eu?
Elizabeth
deixou escapar um princípio de risada, mas tapou a sua boca antes que todo
aquele riso e todos os seus dentes ficassem de fora.
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